A minha relação com os filmes de Mamoru Hosoda tem os seus altos e baixos. De uma forma geral, não são filmes que adoro de forma intensa, mas, cada um à sua maneira, fizeram-me ter experiências diferentes conforme o respetivo tema. Acima de tudo, e na minha opinião, o core dos seus filmes é muito focado na família. Diria que, relativamente a esse foco, existe um perfeito equilíbrio entre a fantasia e a realidade, onde, em vários dos seus filmes, somos transportados para locais paralelos ao mundo que conhecemos como “real”. Este pequeno salto de fantasia, e ao contrário do tamanho deste, resulta numa grande projeção para todo um novo local que transfigura visualmente a experiência (Summer Wars é um claro exemplo dessa mesma transformação).
Mamoru Hosoda já conta com vários filmes como realizador. Os primeiros dois – Digimon: The Movie e One Piece: Baron Omatsuri And The Secret Island – estão associados a duas séries muito conhecidas. Porém, confesso que nunca os vi por não ter interesse nestes nomes, e quando pensei em fazer um artigo sobre este realizador, foi sempre com a ideia de falar um pouco sobre os seus trabalhos com uma identidade própria, ou seja, completamente independentes de séries, mesmo que sejam adaptados de novels como em alguns casos.
A sua qualidade como realizador é inegável, e os diversos prémios que os seus filmes já ganharam – bem como um número superior de nomeações – comprovam o nível do seu trabalho. Atualmente, Mamoru Hosoda tem o seu próprio estúdio de animação chamado Studio Chizu. Porém, The Girl Who Leapt Through Time e Summer Wars ainda foram feitos sob a alçada do incrível estúdio Madhouse. Wolf Children já foi uma cooperação entre os dois estúdios japoneses, tendo sido o último a ser feito em colaboração. A partir daqui todos os seguintes filmes foram feitos a 100% no Studio Chizu e executados a 100% pelo realizador.
O seu próximo filme chama-se Belle e está previsto chegar aos cinemas nipónicos ainda este ano. Enquanto escrevia este artigo, foi revelado um pequeno teaser do filme, o qual podem verificar já de seguida. Mas enquanto esse filme não chega até nós, fiquem então com a lista dos meus cinco filmes favoritos de Mamoru Hosoda.
.
.
.
The Girl Who Leapt Through Time
Este foi o primeiro filme que vi do realizador (pouco tempo depois da sua estreia), e rapidamente se tornou num dos meus filmes favoritos de animação japonesa. Gosto da mistura de todo um universo real, com pitadas de ficção científica a respirar através de saltos temporais. Uma rapariga apanha-se num time loop, do qual tenta tirar partido para seu benefício. Porém, os efeitos secundários, e respetivas consequências, começam a sentir-se de imediato. Posto isso, Makoto, a cara principal do filme, tenta redimir as coisas, principalmente após descobrir que os seus saltos temporais são limitados. Acaba por ser um filme bastante divertido, essencialmente pela sua mecânica temporal, o que é algo que aprecio imenso. Isto sem deixar de mencionar o bom conjunto de personagens. Adoro ver filmes, ou séries, em que existe uma constante repetição de eventos com pequenas alterações aqui e ali, e este é um excelente exemplo que aconselho vivamente.
.
Summer Wars
Embora tenha adorado o filme anterior do realizador, dei comigo numa luta interior para observar Summer Wars. Os trailers nunca me convenceram, nomeadamente a parte dos avatares, mas assim que dei uma oportunidade, foi impossível não gostar do resultado final. Agora que já o vi várias vezes, considero-o como um dos meus filmes favoritos. É caso para dizer: às vezes temos de contrariar o que a nossa mente nos diz. Summer Wars coloca Kenji no meio de uma família apetrechada de personagens peculiares e únicas, tornando a casa numa autêntica feira. Natsuki, uma amiga de Kenji, convida-o para participar na festa de aniversário da sua avó, na qual conhece esta extremamente divertida família. Porém, as coisas tomam um rumo mais sério e Kenji vê-se forçado a usar as suas excelentes capacidades e conhecimentos informáticos para parar uma catástrofe. Mais uma vez, a ficção científica a ter um papel bastante importante num dos filmes de Mamoru Hosoda, onde o resultado no mundo virtual influenciará diretamente as consequências do mundo real.
.
Wolf Children
Este foi o filme do realizador que mais resisti ver, até o ter visto duas vezes em dois dias seguidos; algo que nunca fiz anteriormente (e continuo sem fazê-lo até hoje). A sinopse deixou-me reticente e nunca tive muito interesse em dar uma oportunidade por achar que não iria gostar. Oh boy! Mal sabia eu o quão enganado estava! Wolf Children conta a história de uma família afetada pela perda precoce do pai das crianças, e as lutas diárias constantes de ficar a cargo de duas crianças e tentar dar o melhor para que possam crescer o mais felizes possível. De salientar que esta é uma família de “lobos”, o que implica problemas acrescidos em determinadas situações da sociedade. Existe algo que aprecio bastante, seja em anime, ou em outros formatos de entretenimento, e chama-se coming of age. Traduzindo por miúdos, refere-se ao facto de existir um avanço temporal onde o mesmo se reflete diretamente nas personagens e no mundo em que se encontram, resultando, muitas vezes, numa perspetiva totalmente diferente das mesmas e de todo o setting. Se ainda não viram este filme, então aconselho vivamente a não cometer o mesmo erro da minha pessoa, o qual foi adiar demasiadas vezes.
.
The Boy and the Beast
De todos os filmes de Mamoru Hosoda, para mim, este é o que contém maiores contornos de fantasia, já que somos transportados para todo um mundo ao qual podemos chamar de “mundo animal”. Acaba por ser uma realidade alternativa onde os humanos são substituídos por animais. Ren é a personagem principal deste filme; um rapaz que perdeu recentemente a mãe e não sabe do paradeiro do pai. Ao fugir da casa onde estava a ser acolhido, vê-se envolvido com um animal vindo desse tal reino e é assim transportado para um mundo totalmente diferente do que estava habituado e cheio de novos desafios à sua espera. Uma coisa que me deixou intrigado, e não sei se será uma coincidência, é o facto deste filme, tal como o anterior, ter personagens animais em grande destaque. Para mim, The Boy and the Beast está longe de ser um dos meus filmes favoritos, mas transporta-nos para um mundo diferente do habitual em Mamoru Hosoda.
.
Mirai
O seu último filme foi lançado em 2018, mas, sem uma razão aparente, nunca saltou para a linha da frente de conteúdo para consumir assim que possível. O tempo passou e agora que andava de volta destes artigos sobre os meus realizadores favoritos, sabia que tinha chegado a hora de o ver. De uma forma geral, gostei do que vi, mas, mais uma vez, continua a não bater o The Girl Who Leapt Through Time. Gostei da mensagem que passa sobre as origens de uma família e também da abordagem sobre o aparecimento de um novo membro na mesma, onde a divisão de atenção pelos vários filhos é sempre mais sentida pelo mais velho. Tal como em todos os seus filmes, existe um enorme foco em aspetos realistas e do quotidiano das personagens, mas sempre com uma pequena pitada de fantasia à mistura. Arriscaria dizer que, em termos de core, este filme é algo semelhante a Wolf Children no que diz respeito a criar um filho e nos desafios do dia a dia em que consiste essa prova. Este é, sem dúvida, um bom filme para ver e relaxar durante aquela tarde (ou em qualquer hora do dia) no sofá. Para terminar, e independentemente do valor que isso tenha, quero apenas dizer que o filme foi nomeado para melhor filme de animação na edição dos Oscars em 2019. Isto não deveria ser necessário dizer para vos convencer a ver, mas pode ser que ajude.