Recordo-me perfeitamente quando estava a fazer o artigo com as estreias da temporada de Inverno de 2021 e deparei-me com o nome Wonder Egg Priority. Obviamente que o nome, por ser algo peculiar, acabou logo por ficar absorvido na minha memória, mas a própria arte promocional também se destacou com uma jovem rapariga vestida com uma gabardine amarela. Quando fui tentar perceber de que se tratava a série, o enredo ainda nem tinha sido revelado pois, afinal de contas, estava perante um anime original. Por outras palavras, algo que não é baseado numa manga, novel, ou até num jogo; o seu material foi totalmente criado de origem para a série televisiva.
Antes de começar a entrar em mais detalhes, quero apenas deixar uma nota da presença de alguns spoilers ao de leve.
Wonder Egg Priority conta a história de Ai Ohto, uma jovem estudante que se encontra num estado depressivo intenso o suficiente para não comparecer às aulas. A razão disto envolve o suicídio de uma amiga sua e este sensível assunto acaba por ser a temática principal da série. Wonder Egg Priority começa desde logo a ser estranho (diferente?) em algumas situações e Ai acaba por se cruzar com uma máquina de venda automática chamada Gashapon (algo muito famoso no Japão). Este tipo de máquinas consiste em obtermos um brinde surpresa (quem não se lembra disto em Shenmue?), em troca de dinheiro, naturalmente. Porém, aqui o brinde é um ovo com uma rapariga lá dentro. Sim, literalmente, uma rapariga. Após obter a informação que poderá conseguir fazer com que a sua amiga regresse, caso salve algumas raparigas provenientes da máquina, Ai começa desde logo a sua quest contra uns inimigos chamados Seeno Evils. De salientar que tudo isto tem lugar num mundo alternativo, onde Ai acaba por conhecer outras raparigas. Todas estas têm um papel importante no desenrolar da história e acabam por se encontrar na mesma situação dela, ou seja, todas perderam alguém próximo através do suicídio.
Este grupo de quatro raparigas, todas com personalidades bastante distintas, acabam por criar uma forte ligação devido à partilha daquilo que têm em comum. Apesar de pequenos choques iniciais (em alguns casos), nota-se que existe um amadurecimento da sua relação ao longo da série e ficamos também a conhecer um pouco sobre cada uma delas em determinados episódios, o que acaba por resultar no sempre bem-vindo desenvolvimento das personagens.
As quatro raparigas terão de enfrentar os seus medos e incertezas num mundo, à partida, psicológico, onde confrontarão o principal inimigo da sua situação atual. São estes momentos que injetam alguma ação na série e, apesar do confronto doloroso para elas, esta mesma sensação de dor é contrabalançada visualmente com imensas cores nos cenários de combate, o que me deixou intrigado inicialmente na forma como este mundo foi exposto, mas que acabou por fazer todo o sentido posteriormente. Ainda neste campo da animação e visuais, destaque para a peculiar e criativa aparência do principal inimigo de cada uma das raparigas, com a respetiva personificação da pessoa que despoletou os terríveis eventos.
Mas este mundo onde se encontram, e onde existem as tais máquinas de venda automática com raparigas por salvar, está associado a duas pessoas com uma aparência bastante interessante. Não vou relevar o porquê da existência deste mundo e nem quem são essas mesmas pessoas, mas posso dizer que é muito mais interessante, e pesado, do que aparenta à primeira vista. Diria mesmo que o episódio onde os detalhes são revelados, acaba mesmo por ser o melhor e mais sinistro da série. Por outro lado, a série acaba por não estar totalmente completa já que é algures no Verão, com um episódio especial, que esta será concluída. Não percebo a razão desta decisão, tal como a razão de, numa série de doze episódios, ainda haver espaço para um deles ser o resumo dos eventos até ao momento. Quanto ao episódio final, não se sabe se será apenas de vinte minutos, mas se assim acontecer, acaba por ser uma estranha decisão não ter sido logo incorporado na série. Algo me diz que será bem superior e também acaba por ser uma forma extra de capitalizar a série em si.
Seja como for, e apesar do final não ser de todo conclusivo, considero Wonder Egg Priority como uma das surpresas do ano (ainda só vamos no “início” de 2021), essencialmente pela forma como abordou a temática principal, mas também pelo excelente trabalho ao nível da animação a cargo do estúdio Clover Works, nome também responsável por The Promised Neverland. Acima de tudo, acaba por ser uma série que, não sendo totalmente inovadora, acaba por ter ideias interessantes, as quais são complementadas com excelentes visuais e um mundo deveras intrigante.